Garota
"Eu
sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai
aguentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não
explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do
corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar
para se estar."
Caio Fernando Abreu.
Era
só uma simples garota que observava o mundo, não perdia nenhum
grão de areia que passasse pela praia, nenhuma indireta que fosse
visivelmente direta, ela se permitia sentir todos os sentimentos em
silêncio e apenas fechava os olhos quando se tornavam muito
intensos. Nunca entendia o motivo pelo qual tem sido tão rejeitada e
se perguntava por que ainda se importava tanto com o que as pessoas
pensavam.
Toda
manhã plantava carinho e toda tarde colhia apatia, uma leve
introspecção pela noite fazia com que ela perdesse a cabeça, não
soubesse mais a ordem das coisas, então cansava de tentar se
entender e dormia. E adorava os seus sonhos, era a melhor moradia em
que sua mente repousava, era tudo que ela amava e tudo que se tornava
possível, eram vaga-lumes e conversas sobre tudo e nada.
Acho
que era disso que ela gostava, do que não fazia sentido e também
disso que tinha medo, do que não ficava pra sempre, do inseguro e da
hora de abrir os olhos.
O
tempo foi passando então ela desistiu de sempre querer agradar,
sempre estar a disposição, de não encarar, não questionar...
Ela
sentia um sufoco suave subindo por seus ombros e via a indiferença
nos olhares. Ah...como isso a corroía por dentro, mas simplesmente
respirava fundo e seguia.
Como
era covarde.
E
nunca aprendia.
Nunca
rebatia, somente apanhava.
Tinha
tudo gravado na mente, sabia todas as respostas, tinha o discurso
perfeito e pensava em como a sociedade a deixava irada com seus
padrões e poses, volta e meia dizia que era sim a garota do
subúrbio, sem peito, nem bunda, não tinha a beleza do melhor rosto,
nem o melhor cabelo, da perfeição passava longe. Mas para ela já
bastava ser básica, andar, falar e ter consciência. E logo ela, a
garota que observava o mundo.
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